quinta-feira, 27 de agosto de 2015

evasão


Não sou corajoso.
Se fosse rompía comigo mesmo e nascia outra vez. Não emendava nada do que tenho feito até agora, simplesmente nascia de novo, puro, limpo, preparado para vir ao mundo sem medos.
Digo isto porque por vezes a táctica da fuga ou a evasão calculada é a melhor forma de evitar curiosidades de terceiros ou amargos de boca dificeis de explicar que quanto mais se estendem na informação mais complicados se tornam.
Ontem, regressado do almoço e à porta do edifício onde trabalho, acompanhado de colegas fui abordado por pessoa conhecida. Não do mundo do dia, do que me conhecem os que estavam comigo mas que ficaram expectantes perante o estranho que se aproximou de mim, estendeu a mão e com a outra agarrou também o braço, o ombro, falou perto do meu ouvido a sorrir, coisa de minutos a que eu respondi secamente.
Quem era, perguntou uma colega, mas eu não  respondi, as palavras do estranho atordoaram-me até à surdez.
Todo o almoço foi fora.
 

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

mentira ou verdade, mentiras e verdades


Como abomino gente que vem cheia de energia no inicio da semana. Estou cheio de náuseas pelo que não devía ter feito no fim de semana, culpo-me na singularidade de pecador e penitente e atormenta-me a alegria dos que volteiam ao meu redor com exposições da sua vida privada, talvez esperem o meu troco de revelações mas a decepção é a única moeda que lhes posso oferecer: Fiquei em casa.
Não acreditam.
Nem devíam, pois é uma grande mentira mas há verdades que são mais criminosas que as mentiras.
Para mim, não para eles.
Como abomino mentiras e verdades, ficar em casa quando não deixei de ficar, ir ao céu quando agora estou no inferno.
 
 

sábado, 1 de agosto de 2015

madrugada

 
Desperdício.
Não perco tempo em conjecturas sobre sensibilidade e bom comportamento, houve esse lugar não me  lembro quando nem mais interessa, aqui não é o lugar deles, aqui não é o meu lugar, empresto-me por necessidade por isso tanto desperdício.
Aproveito, deixo que me aproveite ou que finja que gosto, gasto o que uso no bom uso do que escolhi, são trocadilhos de uma hora arrendada, até esqueço e deixo-me ir gostando à séria, o mal vem depois do muito bom e é nesse tempo que não devo perder a cabeça nos princípios.
Aqui é que bate, na zona do mal, no mastigar do desperdício a remoer o que poderia ter sido se. 
Leia-se a zona do mal, quando já confortado e de barriga cheia, passo o filme ao contrário e as golfadas do vómito vêm empestar a consciência.
Esqueci-me dos meus óculos de sol por lá. Ainda era noite quando saí, haviam homens a lavar as ruas, tive uma imensa vontade de lhes pedir para me lavarem também.