Convenço-me que não o faz por mal, sempre meti na cabeça que não o faz deliberadamente, mas não consigo deixar de ter raiva ao som das primeiras palavras sobre o assunto.
Mantenho-me calado e distante.
Faço por fazer de conta que não é comigo.
Não é comigo. Será de outros, mas um sentimento de ódio aquece-me o peito, tenho vontade de lhe bater, depois tenho medo, tenho vontade de chorar, de fugir e de gritar e de acabar de uma vez por todas com isto.
Faço de conta que não me diz respeito, deixo-o dizer tudo, todas as barbaridades que estou acostumado a ouvir de todos os lados e que ignoro porque não é comigo, não é de mim que falam.
O meu pai vai levando todo o almoço deste bendito feriado com a mesma conversa. Entre cada garfada de alimento devora a sua nutrição pelo ódio que tem a estes que nunca deviam ter nascido porque só trazem desgraça aos pais. A minha mãe sorri, oferece a travessa, não sabe o que fazer.
Sinto-me cheio, peço licença e levanto-me.
E uma noiva, uma namorada, um neto, pergunta ele.
A mãe sorri e diz que ainda é cedo.