quarta-feira, 4 de novembro de 2015

era belo e vinha deitado


O choque do reencontro não está na distância do tempo, está nas circunstâncias do cenário, nas rugas que os panos afastados exibem ao expor a luz sobre a verdade.
Ali estava ele.
Entrava deitado, o caixão negro muito brilhante coroado de flores a descarnarem a sua fragilidade de ser humano irresistível ao apetite da vida, direi morte, múltiplas mortes exibidas nas caras fechadas dos que o acompanhavam.
Eu de saída com a minha mãe.
Onde é que nos tínhamos desencontrado não me lembro, perdi-me em conjecturas e apertos de caminhos, abraços e beijos, um filme que se passa quando se está à beira da morte e afinal ele fora-se sem me avisar, sem despedidas, nunca houve nenhuma e nem mesmo na vida dele, contaram-me os que me vierem esticar o aperto de mão contido, um abraço, dois beijos como se eu fosse família, o tempo não lhe deu a oportunidade de dizer é agora a despedida.
Disseram-me que ainda estava belo apesar da doença.
Era muito belo recordo-me. Mais belo quando se falava com ele.
Estou chocado porque me esqueci da beleza dele e agora todas as suas palavras se foram.
 
 

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