domingo, 1 de novembro de 2015

os mortos, os vivos e os desaparecidos


Quando era menino corria entre campas, às vezes um pé escapava-se e o medo do que me contavam levava-me de volta à minha mãe, serena, de olhos fechados numa oração junto à lápide do meu tio ou dos meus avós. Ela segurava-me pela manga e mandava-me ficar quieto, outras pessoas assustavam-me dizendo que os mortos me vinham buscar.
Hoje levo-a e ela mantém o mesmo ritual de prece, acrescentou outras visitas, eu não corro mas o sitio dá-me um frio pela espinha, lambo os verdes entre espaços das pedras brancas e cinzentas e os meus olhos só querem esquecer.
Também tenho alguns por aqui, gente que riu comigo e tinha calor nos abraços, agora não sei quem são sinceramente. Não lhes procuro onde se deitam, não quero saber, só espero o momento de saír e não me lembrar mais do dia.
Saímos de braço dado, passos pequenos como se o cansaço se montasse às cavalitas, um e outro suspiro dela, eu sufocado.
E foi quando o vi a entrar.

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