sábado, 4 de julho de 2015

promessa


Vou sempre parar ali, apesar de detestar o fumo, o cheiro dos corpos, apesar de no caminho até lá só pensar no que vou encontrar, o cheiro dos corpos.
A noite grande acaba sempre por ser a noite mais magra, por ser a mais consumida de tanta vontade. Esta noite nada mais tive que cheiro requentado de nicotinas passadas de boca para boca e a observação de bocas que trocaram palavras comigo na gritaria dos decibéis, não sei o que me disseram, a maior parte das vezes não percebo o que me dizem, os olhos e os invulgares gestos de tão minúsculos no seu agitar tornam-se-me tão mais bem entendíveis que quando falam não consigo traduzir o que se aproxima.
 
Bebi demasiado esta noite.
Nem tanto que não tenha percebido que quem abre a porta sou eu, que quem roda a chave no trinco é a minha mão e é esta que completa os ponteiros do dia a nascer. Prometo-me não voltar lá, especialmente depois desta noite.
Especialmente porque a minha roupa despida trouxe para o quarto o cheiro dos corpos que ficaram por lá.


Sem comentários: